Filmes cortados por serem considerados inadequados para menores de 18 anos
Durante a década de 1970, o cinema viveu uma fase de grande experimentação e ousadia, tanto no conteúdo quanto na forma. Esse período trouxe ao público filmes que exploravam temas como sexualidade, violência e questões sociais de maneira mais explícita, resultando em produções que desafiaram as normas estabelecidas pela censura. No entanto, devido a essas temáticas, muitos filmes enfrentaram cortes significativos ou até foram proibidos em alguns países por serem considerados inadequados para menores de 18 anos. Dois exemplos marcantes desse fenômeno são “Laranja Mecânica” e “O Último Tango em Paris”, que, por sua natureza controversa, tiveram cenas removidas ou sofreram restrições de exibição.
1. “Laranja Mecânica” (1971)
Dirigido por Stanley Kubrick, “Laranja Mecânica” é uma das obras mais polêmicas da década de 70. Baseado no romance de Anthony Burgess, o filme se passa em uma sociedade distópica e acompanha a vida de Alex DeLarge, um jovem líder de uma gangue envolvida em atividades violentas, como estupros e espancamentos. A narrativa gira em torno da trajetória de Alex, que, após ser capturado pelas autoridades, passa por um tratamento experimental de reabilitação que visa eliminar seu comportamento criminoso.
O filme foi amplamente elogiado pela crítica, mas sua representação gráfica da violência e a abordagem sobre o livre arbítrio levantaram intensos debates. No Reino Unido, por exemplo, Kubrick decidiu retirar o filme de exibição após relatos de crimes que, supostamente, teriam sido inspirados pela obra. Nos Estados Unidos, o filme recebeu a classificação etária “X”, destinada a produções com conteúdo explícito para adultos. Várias cenas de violência extrema, especialmente aquelas envolvendo violência sexual, foram alvo de censura e cortes em diversos países, incluindo o Brasil. Em algumas regiões, “Laranja Mecânica” foi banido por completo, sendo liberado apenas anos depois, muitas vezes com cenas atenuadas ou removidas.
A obra continua sendo uma referência importante no debate sobre a censura no cinema e a influência dos filmes sobre o comportamento social. Mesmo assim, “Laranja Mecânica” é lembrado como um dos maiores clássicos do cinema, desafiando os limites da representação de temas violentos e controversos.
2. “O Último Tango em Paris” (1972)
Outro filme que causou grande controvérsia na década de 1970 foi “O Último Tango em Paris”, dirigido por Bernardo Bertolucci. A produção conta a história de Paul, um homem de meia-idade vivido por Marlon Brando, que, após a morte de sua esposa, inicia um relacionamento sexual anônimo com uma jovem francesa, interpretada por Maria Schneider. O filme é conhecido por suas cenas de sexo explícito e por abordar temas como a alienação, o luto e a sexualidade de maneira direta e perturbadora.
A sequência que gerou maior controvérsia foi a famosa “cena da manteiga”, em que Paul usa manteiga como lubrificante em uma cena de sexo anal com Jeanne, personagem de Schneider. A intensidade da cena e a forma como foi filmada geraram reações negativas não só do público, mas também da própria Maria Schneider, que mais tarde declarou ter se sentido explorada durante as filmagens.
“O Último Tango em Paris” foi alvo de censura em vários países. Na Itália, o filme foi inicialmente proibido, e Bertolucci chegou a ser condenado por ofender o “bom costume”. Em outros lugares, cortes severos foram realizados para que o filme pudesse ser exibido em cinemas convencionais, com várias cenas de nudez e sexo explícito sendo removidas. Nos Estados Unidos, o filme também recebeu a classificação “X”, destinada a filmes exclusivamente para adultos.
Apesar da polêmica, “O Último Tango em Paris” é considerado uma obra cinematográfica de grande impacto, explorando a complexidade das emoções humanas através de uma lente intensa e sem concessões. O filme se tornou um marco do cinema adulto da década de 70, ainda que sua recepção tenha sido profundamente dividida entre aplausos e repúdio.
Filmes como “Laranja Mecânica” e “O Último Tango em Paris” exemplificam como o cinema dos anos 70 desafiou as convenções da época, especialmente no que diz respeito a temáticas adultas. Embora essas produções tenham enfrentado cortes e censuras por serem consideradas inadequadas para menores de 18 anos, elas também marcaram a história do cinema pela ousadia e pela capacidade de provocar debates profundos sobre violência, sexualidade, belezas trans e a natureza humana.